Dispidida ka sabi...
Parto daqui a um par de horas de Bissau, rumo a Lisboa. Na bagagem levo inúmeras aventuras e a certeza de que cresci bastante e deixei aqui um contributo positivo. Regressarei em Setembro para novas vivências e para reencontrar estas gentes e esta cultura que tanto me ensinou ao longo deste ano e que certamente me levará a mais descobertas deliciosamente enriquecedoras.
sábado, 18 de julho de 2009
quarta-feira, 15 de julho de 2009
Tempo para viver
"TEMPO PARA VIVER"
Passamos por vários momentos
Os mais difíceis, os mais fáceis,
os mais perigosos e os mais mansos
Todos são momentos importantes
Pois fazem parte do tempo
Do tempo que temos para viver
Crescemos como uma árvore
Estendendo os braços longos, como se fossem ramos erguidos
Os pés bem colados na terra
Firmes em suas marcas e caminhos
Raízes longas e profundas de homens fortes e determinados
Corremos como um rio
Pois em nossas mãos estão nossos ideais
Com olhos fixos em água de espuma
Vontade forte e única
Momento de sermos uns pelos outros
Lutando constantemente... sem desistir
Conquistando migalhas duras
Este é o momento em que podemos ter um tempo novo
É tu és a esperança que nasce na madrugada
Que cresce nas tardes de Setembro
E aquece o coração da vida
E assim
A luz perfeita e mais dourada
Como a fonte que sempre me lembro
por Maran Banora
(Do livro "Histórias das Tabancas, Histórias criadas e contadas pelas mulheres da Guiné-Bissau, Aryran)
Passamos por vários momentos
Os mais difíceis, os mais fáceis,
os mais perigosos e os mais mansos
Todos são momentos importantes
Pois fazem parte do tempo
Do tempo que temos para viver
Crescemos como uma árvore
Estendendo os braços longos, como se fossem ramos erguidos
Os pés bem colados na terra
Firmes em suas marcas e caminhos
Raízes longas e profundas de homens fortes e determinados
Corremos como um rio
Pois em nossas mãos estão nossos ideais
Com olhos fixos em água de espuma
Vontade forte e única
Momento de sermos uns pelos outros
Lutando constantemente... sem desistir
Conquistando migalhas duras
Este é o momento em que podemos ter um tempo novo
É tu és a esperança que nasce na madrugada
Que cresce nas tardes de Setembro
E aquece o coração da vida
E assim
A luz perfeita e mais dourada
Como a fonte que sempre me lembro
por Maran Banora
(Do livro "Histórias das Tabancas, Histórias criadas e contadas pelas mulheres da Guiné-Bissau, Aryran)
sábado, 11 de julho de 2009
Ano lectivo na Guiné-Bissau
O ano lectivo guineense foi bastante peculiar devido às constantes paragens causadas por greves e boicotes de professores pela falta de pagamento de inúmeros salários em atraso à função pública. A par disso, a instabilidade política e militar da Guiné-Bissau e os assassínios de diversas figuras políticas acabaram por contribuir fortemente para o caos em que o ano lectivo se transformou. 

As aulas iniciaram só em Janeiro e houve logo diversas greves, seguidas pelas paragens do Carnaval e assassínio do Presidente da República e Chefe de Estado General das Forças Armadas no início de Março. A partir daí ainda houve algumas semanas de aulas até à interrupção da Páscoa.
Depois dessa altura, os professores do Ensino Básico receberam alguns salários e as aulas nas escolas do Ensino Básico Unificado continuaram em força e terminaram após a realização das provas no final de Junho.
Em contraste, as aulas em alguns liceus de Bissau só foram retomadas há algumas semanas e, mesmo assim, sem grande adesão por parte de professores e alunos. Agora a chuva já marca a sua presença e todos se queixam da decisão de prolongar as aulas até finais de Agosto, uma vez que a água entra dentro de algumas salas e não permite aos alunos sentarem-se nas carteiras. A falta de dinheiro para pagarem transportes públicos também faz com que muitos professores e alunos não possam deslocar-se a pé quando caem as grandes tempestades.
De qualquer forma, as aulas nos liceus estão a decorrer e os alunos terão de fazer provas finais para transitarem de ano. Será que há um número mínimo de dias lectivos? Quais foram as aprendizagens efectivas dos alunos guineenses? Como é que um aluno pode transitar para o ano seguinte sem os requisitos mínimos? E os alunos que estão na 11ª classe e transitarem de ano podem-se matricular no ensino superior depois deste ano tão atribulado?
Os pagamentos dos salários de 2009 aos professores guineenses está a começar a ser efectuado e há promessas de, a partir de agora, cada salário ser pago no final do mês. Será verdade? Isso ajudará em muito a melhoria do sistema educativo guineense e, consequentemente, da formação dos jovens guineenses que se mostram desmotivados para os estudos, embora tenham invariavelmente uma grande esperança no futuro do país.



Liceu Dr. Agostinho Neto










Estavam nesta festa centenas de alunos e eu interrogo-me... Onde é que estão esses alunos agora? Vão passar de ano? Vão ter dinheiro para pagar as propinas do próximo ano lectivo, apesar de correrem o risco de voltar a não haver aulas regularmente? Os conhecimentos adquiridos este ano foram bem trabalhados e assimilados? Vão sofrer consequências no seu futuro devido a esta instabilidade? Vão exigir o seu direito à educação?
Será que estes jovens vão ver cumpridos os Objectivos do Milénio?
Bolas de sabão em África


Para desanuviar dos dias de provas, aproveitei a Oficina Artística onde tento sempre espalhar a arte, para experimentar de novo a actividade das bolas de sabão. Da última vez que fiz bolas de sabão com cianças guineenses houve algumas falhas, mas como sou muito teimosa aproveitei a dica de um amigo e levei cabos de teclados velhos que os alunos cortaram e tiraram os fios lá de dentro, ficando apenas com o tubo de fora. Metemos água, detergente da loiça e açúcar dentro de copos de iogurte e a magia começou.




Rapidamente peceberam que, se soprarem pelo tubo para dentro dos copos, o efeito é bem divertido. Eu já não fazia isso há tantos anos, que quase tinha esquecido as horas passadas a soprar água com sabão azul...




A diversão e euforia foi tanta, que qualquer bolhinha que caísse no rosto ou braços das crianças era motivo para me arrastarem até eu ver e fotografar.



Apareceram miúdos de toda a escola a pedir tubinhos e copos e alguns pegaram nas suas palhinhas do sumo e deliciaram-se com as cores das bolas de sabão, apesar de o sol estar encoberto pelas nuvens da chuva cuja aproximação se estava a fazer notar também pela humidade irrespirável que andava no ar e que me faz suar litros de água.

Depois de recolher o material, dirigi-me às salas das turmas piloto para observar as aulas e acabei por não resistir e distribuir os copos e tubos pelas duas turmas, que se divertiram imenso. Houve uma aluna que perguntou se aquela era a prometida prenda do final do ano e eu disse-lhe que sim e, uns dias depois, aparecemos lá com material escolar para distribuir pelos alunos (essas fotos ficam para outro post).
Adoro África por esta simplicidade e pela facilidade de fazer um batalhão de miúdos sorrir com algo tão banal e efémero, mas ao mesmo tempo tão mágico como bolas de sabão!
sexta-feira, 3 de julho de 2009
Dia Mundial da Criança em África





Os saltos nos pneus foram divertidíssimos, principalmente pela diversidade de técnicas que os alunos adoptaram para ultrapassar este desafio.


A corrida de obstáculos foi a prova mais simples, para poderem recuperar o fôlego da corrida de sacos.











Entre jogos e brincadeiras, alguns alunos iam regressando às suas salas para prepararem a festa anteriormente planeada.
E a verdade é que foram os participantes mais entusiastas e mais aplaudidos. No final receberam o seu prémio e ficaram felicíssimos a brincar com os balões. Na foto de cima está um dos meus formandos, o professor Sadibo, que assiste sempre à minha formação "capacitação pedagógica de EVT".
O grupo de professores posou para a foto e agradeceram a iniciativa, tal como os alunos.
Estas fotos de molhos de miúdos são sempre muito difíceis mas divertidíssimas!
No final da actividade é sempre necessário arrumar o material e há sempre ajudantes que se prontificam de imediato!
Antes de irmos embora fomos chamadas a ir a uma das salas da 1ª classe, onde a tão aguardada festa estava a começar. E a festa do dia da criança é, na verdade, um convívio dentro da sala em que cada um traz o seu prato e copo e todos contribuem com dinheiro para comprar arroz e "mafé", o acompanhamento do arroz e que geralmente é batata, caldo, carne ou peixe. Neste dia também há sumos para todos. Por vezes também pode haver previamente distribuição de papelinhos com o que cada um tem de trazer. E esta é a festa. Se alguém trouxer um rádio e houver electricidade pública, há música para dançar mas, se não houver, batem palmas a marcar o ritmo. Cada aluno trouxe o seu prato e copo e alguns trouxeram também colher.

Os alunos das salas em kirintim foram-me chamar porque também queriam tirar fotos dentro das suas salas. A foto de cima é da primeira sala em kirintim da foto de baixo.

Depois da participação de todos os alunos, algumas repetições e de te finalmente terminado a fila, chegou a vez dos professores participarem na gincana e, subitamente, todos os alunos sairam das suas salas a correr para verem os professores numa situação tão diferente do habitual, pois geralmente adoptam uma postura demasiado formal dentro da sala de aula.







Todos têm um sorriso enorme de dia de festa, que complementa a simplicidade de um momento genuíno e contagiantemente feliz.
Durante a tarde fui para a Oficina em Língua Portuguesa da escola Salvador Allende tomar conta da feira do livro do ensino básico. Não houve muitos visitantes e mesmo os que apareceam queixaram-se de não terem dinheiro. As aulas nos liceus estiveram paradas durante muitas semanas devido à falta de pagamento dos salários em atraso, que já são muitos.
Algumas crianças aproveitaram a tarde para espalhar um pouco de ritmo pela escola. E estes, será que estudam? Onde?
Sobraram muitos balões da EDP e, ao sair da feira do livro, decidi passar por várias salas da Salvador Allende para os distribuir. A festa repete-se nesta escola, em moldes semelhantes à Justado Vieira. Mas nesta sala onde eu entrei o cenário era outro. As mesas não estavam encostadas às paredes e os alunos não estavam sentados nas mesas com o seu prato e copo à frente. Não, aqui a festa foi diferente mas igualmente animada.


Na sala seguinte encontrei cerca de 80 miúdos a comer deliciados, pois tinham juntado duas turmas na mesma sala. O arroz, batata e frango já tinham sido distribuídos e eu comecei a distribuir os balões, mas cedo percebi que não seriam suficientes para todos...
Perante a desilusão geral, foram os próprios alunos que resolveram de imediato o problema dizendo que eu devia dar só aos mais novos. Et voilá, assunto resolvido sem alarido, apesar de muitos gritarem e acenarem a dize que também eram pequenos. Para os compensar, todas as mesas tiveram direito a foto, o que os deixou igualmente felizes, embora provavelmente nunca irão vê-las... E, como é dia de festa, cada um levou a sua melhor roupa, inclusivamente um fato com gravata que o aluno da foto orgulhosamente se levantou para eu fotografar, mas que ficou em contra-luz...

É dia de alegria e não seria festa sem partilha. Assim, a professora e os alunos insistiram para que comêssemos com eles, ou pelo menos bebêssemos um sumo. O receio da água não fervida fez-nos recusar educadamente a oferta, apesar da ternura com que nos quiseram integrar na sua refeição.

À saída da escola passaram duas raparigas novinhas que andavam a vender mangas e que, neste dia especial, mantêm as suas funções. Será que estudam? Será que se matricularam e frequentaram algumas aulas? Ou passam os dias a circular pela escola e pelas ruas da cidade a vender fruta?
No dia 2 de Julho estas salas de kirintim que se vêem na foto desabaram durante a tempestade durante a noite. Já há uns meses tinha desabado outro pavilhão de kirintim desta mesma escola... Não há dinheiro para reconstruir e, no início do próximo ano lectivo, haverá menos salas de aula para os alunos desta escola.




Havia na sala três grandes bacias cheias de arroz e, por cima, vários pedaços de frango. À volta de cada bacia estava um grupo de alunos que comiam satisfeitíssimos. Mal me viram, ficaram todos contentes a olhar para os balões que eu lhes levava. Nem todos os alunos tinham colher, por isso alguns amassavam o arroz (ficava com forma de pastel de bacalhau) e comiam-no com as mãos. É assim que muitos guineenses comem nas suas casas, numa bacia comum em que nunca falta o arroz que é a base da alimentação da Guiné e, atrevo-me a dizer, a única forma de alimentação em alguns casos. Mas neste dia não, neste dia havia frango com um aspecto delicioso!

O meu olhar é sempre um olhar de fora, mas ainda assim era demasiado evidente a separação destes dois alunos que, na mesma sala, comiam numa mesa. Há dois pratos e um deles tem uma colher, enquanto que o outro tem faca e garfo e até um copo de champanhe. Não sei o que me tocou mais... Os miúdos a comerem nas bacias, ou estes dois completamente postos de parte e com um ar de superioridade que evidenciou algo que está bem presente aqui.

A professora tinha uma espera (vestido tradicional) giríssima de "chapa chapa" vestida e o tradicional pano na cabeça, que me parece sempre uma escultura dinâmica fantástica. Enquanto os alunos comiam, a professora amamentava a sua filha de poucos meses. Os alunos estavam radiantes com as fotos e com a festa, numa alegria que mostra o quão importante é haver um dia Mundial da Criança. Entretanto surgiu de novo o convite para me juntar à refeição e os alunos insistiram bastante, mas mais uma vez eu escapei-me sorrateiramente dizendo que preferia que fossem os alunos a aproveitar a festa. Lá consegui escapar do arroz e do saquinho de sumo e segui para a próxima sala, num misto de emoções indescritível.



A alegria reinava na sala e havia até um rádio gigante que esperava a eventual chegada da electricidade pública, emboa todos saibam que as probabilidades são mínimas. Mas todos queriam dançar e cantar! Não posso deixar de referir o quanto me custa entrar nestas salas e peceber que, tirando algumas palavras que são semelhantes em crioulo, ninguém percebe nadinha daquilo que eu digo em português. As aulas são dadas em crioulo e a língua portuguesa acaba por ser pouco trabalhada na maioria das escolas e, consequentemente, os alunos dos liceus, do ensino superior e a maioria dos adultos e até muitos pofessores têm imensas dificuldades na Língua Portuguesa, que é a língua oficial do país mas que está muito pouco presente na vida dos guineenses.
Esta sala estava bem munida de comida e, quando me apercebi, já estavam quase a servir-me a comida, que eu mais uma vez tive de recusar. E claro, o professor e os alunos disseram que eu tinha de beber o sumo de cabaceira e eu ainda tentei utilizar o argumento de preferir que ficasse para os alunos, mas mostraram-me logo os dois baldões de sumo, um dos quais aparece na foto e aí... tive mesmo de recusar a oferta. Da última vez que me aventurei e bebi dois goles de água da torneira, passei uma semana em casa... É difícil explicar que o nosso organismo não aguenta certas comidas e bebidas não fervidas, apesar de me ter custado recusar. Mas aqui não podemos descurar a saúde e higiene alimentar e, por isso, agradeci a ternura da oferta, desejei-lhes um excelente dia da criança e regressei a casa com o coração cheio de uma felicidade tansbordante que veio da simplicidade com que a vida pode ser vivida.

É assim a festa guineense. Desde que haja arroz e boa disposição, a animação é garantida! E há sempre algo para partilhar!
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