segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Kaminhu di riba

Ontem fiz o kaminhu di riba, ou seja, o caminho de volta, a viagem de regresso a África. Ao sair no Aeroporto Osvaldo Vieira do katchu di feru, que traduzido à letra é um pássaro de ferro, a humidade estava quase nos 100% e os 27º fizeram-se sentir pela madrugada enquanto esperávamos as malas e também na viagem pela Avenida dos Combatentes da Liberdade da Pátria. Essa viagem na carrinha do Zeca, o motorista do projecto, foi bastante diferente da mesma viagem realizada há um ano atrás nos meus primeiros momentos em África. Já não me espantei com a falta de iluminação pública que é colmatada através de velas que se vêem em maior quantidade com o aproximar do centro de Bissau e que me encantam pelas sombras que formam ao seu redor.
Hoje, ao abrir a porta de casa, senti o mesmo bafo quente mas menos húmido que no ano passado. A época da chuva acaba a meados de Novembro e até lá a tchuba vai sendo menos frequente e a humidade também vai descendo.
Estou aos poucos a relembrar pormenores esquecidos durante as férias em Portugal, como as cores de África, o som do gerador, a baixa pressão do chuveiro, os mosquitos, os carreirinhos de formigas, o cheiro da terra, os panos africanos, os abutres a pairar sobre a cidade, ferver a água, tomar banho de boca fechada, o caju, as bananas e muitos outros pormenores que vou redescobrir neste novo ano como agente de cooperação na Guiné-Bissau.

sábado, 26 de setembro de 2009

Feriar

Feriar é o acto de estar de férias, segundo os guineenses. Acho que foi um dos verbos mais divertidos que já aprendi, dos que foram criados pelos guineenses. É quase tão engraçado como o verbo "diarrear" que significa estar com diarreia e "fitacolar", quando alguém utiliza a fita-cola. Também aprendi o verbo "desconseguir", o que acontece com alguma frequência com cada um de nós que vai para África dar o seu contributo.
Pouco antes de vir de férias foram vários os que me questionaram:
- "A professora Telma vai feriar para Portugal?"

Sim, eu feriei um pouco por todo o Portugal, sobretudo pelo norte mas também um pouco pelo centro e Alentejo. Foi delicioso ver o nosso portugalito e perceber uma vez mais que a nossa percepção da realidade que nos envolve é bastante condicionada pelo contexto em que estamos inseridos e que tudo é relativo. Quando vivi na Dinamarca senti um grande choque ao regressar ao meu país que me pareceu tão parado no tempo, tão atrasado e tão sub-desenvolvido. Desta vez, ao regressar de África, Portugal pareceu-me muito sofisticado e desenvolvido. É assim mesmo, tudo é relativo.
Nestas férias gostei sobretudo de partilhar a minha experiência, contar as aventuras e desventuras mais divertidas. Gostei sobretudo da reacção das pessoas e do interesse em saber mais sobre este país extraordinário. Agradeço a todos os que continuam a dar força e a enviar energias positivas para que o nosso trabalho junto das populações seja mais eficaz e produtivo. O regresso a Bissau está para breve e na bagagem seguem mais projectos e ideias a implementar, que irei resumindo ao longo do tempo aqui no Espalharte.