sexta-feira, 3 de julho de 2009

Negociações

Após algum silêncio, estou de volta para partilhar mais fotos e divagações. Entretanto, no último mês, o trabalho intensificou-se e o portátil fez greve e avariou. À excepção da maioria das fotos (quase 18000!), os restantes ficheiros continuam lá enclausurados e estão à espera do médico dos computadores, mas já só faltam duas semanas para as férias em Portugal!
Neste mês fiz imensas actividades bastante diversificadas com crianças e professores e regressei às pinturas. Os passeios pela cidade foram reduzidos em parte devido à chuva ainda um pouco tímida e irregular e também devido às campanhas eleitorais que deixaram a cidade caótica nos últimos dias. As eleições decorreram de forma tanquila e agora aguardamos pela 2ª volta, onde se elegerá o próximo presidente da República da Guiné-Bissau.
Entretanto partilho algumas fotos de alunos da EBU Justado Vieira, EBU Salvador Allende e também um gupo de alunos do pré-escolar que passou em carreirinho em frente ao Ponto de Encontro enquanto eu ia a sair.
Aproveito também para partilhar algumas fotos da recém-rebaptizada Avenida Amílcar Cabral num dia de semana, altura em que o mercado do Bandim fervilha de vendedores e compradores de todos os produtos possíveis e imagináveis e também alguns que ninguém imaginaria.
Para além dos comerciantes guineenses, há muitos vendedores muçulmanos, alguns libaneses, do Senegal, Mauritânia, Gâmbia, Guiné-Conakry... O misto de línguas que se ouve, as cores, os tecidos, as roupas, os cheiros, associado às diferentes culturas que aqui se afirmam, transfomam a cidade de Bissau num melting pot riquíssimo e muito vasto.
Cada vendedor tem a sua banquinha, mas isso em África não é impeditivo a negócio nenhum. Basta chegar um "branku m'pelelé" (ou um outro cidadão qualquer, presumo eu) e referir um determinado objecto, que imediatamente surge uma cadeira perneta semi-arranjada em que quase me obrigam a sentar e aparece logo alguém com um chapéu de sol esbranquiçado das horas ao sol, com remendos por cima de remendos. Enquanto eu repetidamente nego o luxo improvisado, logo aparece alguém ofegante com um objecto na mão, trazido de uma outra banca, o que significa à partida que vai se mais caro, pois são dois vendedores a ganhar. Se tivermos sorte, perceberam bem o que nós queríamos, mas nem sempre isso acontece e, nesse caso, lá vai ele de novo a correr procurar um novo objecto. Muitas vezes tento, no meu melhor crioulo, explicar para que é que o objecto serve, como é, qual a forma e tamanho, etc. Num misto ente português e crioulo, há sempre alguém que percebe ou então descobre-se por tentativa e erro. O melhor mesmo é levar uma amostra, um desenho ou uma foto. É importante referir que, enquanto esperamos que o negócio se faça, aparecem montes de vendedores a chamar ou a impingir outros produtos, aos quais temos de negar diversas vezes até nos deixarem em paz. Ka misti! E se olhamos para algum outro produto, é certinho que temos logo de recusar antes que venham atrás de nós o resto do caminho.
Quando finalmente temos o poduto que pretendemos na mão, abre-se um novo capítulo. Qualquer que seja o preço que o vendedor disser, temos sempre de fazer uma cara de espantados e dizer que é muito caro, na entoação típica de quem quer negociar. Se em seguida pedirmos para baixar o preço, o vendedor pergunta quanto é que queremos pagar e o melhor truque é propor baixar para metade. Aí são eles que fazem voz e cara de espanto e continua-se assim até um se cansar e chegar a acordo sobre o preço. Às vezes o melhor é pegar no valor que queremos pagar e mostá-lo e fingir que, se não aceitarem, nos vamos embora.
Já sei que o preço para brancos é sempre mais alto quer seja no mercado, quer seja numa loja e, em ambos os casos, é sempre possível pedir "abatimento" e negociar, haja tempo e paciência. Se a nossa primeira proposta for aceite sem hesitação, já sabemos que fomos enganados e o preço real é bem mais baixo.
Resumindo, cada ida ao mecado do Bandim é uma aventura memorável onde se pratica o português, crioulo, francês ou inglês. No entanto, os gestos ou desenhos e as caretas são sempre mais eficazes.
No final, voltamos sempre para casa com a sensação de ter pago muito mais do que era suposto, para além de trazermos sempre mais produtos do que inicialmente tínhamos planeado, mas que no processo da negociação nos foram impingidos e nós cedemos, para despachar. Já agendei para o próximo ano uma ida ao interior do Bandim para fotografar, embora seja necessário um guarda-costas e muita loucura para me aventurar por lá com a máquina fotográfica. Mas acho que as fotos vão valer a pena!
Do outro lado da avenida, no sentido do Aeroporto, há mais uma acácia rubra lindíssima. Estas são, para mim, as árvores mais bonitas da Guiné.

1 comentário:

Um pai que não sabe o que faz disse...

Junta aí Moçambique na votação para as acácias como árvores mais bonitas de um país... :) como gostava de passar pela acácia rubra todos os dias a caminho do trabalho em Lichinga... :)

jokas, Ricardo