segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Ofertas de material escolar

Para enviar ofertas para as crianças das escolas da Guiné-Bissau basta recolher materiais escolares (cadernos, lápis, borrachas, afias, marcadores, lápis de cor, cola, fita-cola, tesouras, pastas, dossiers), material informático, manuais do Ensino Básico, dicionários, gramáticas, livros infanto/juvenis, livros de pedagogia, ciências da educação, etc.

As encomendas podem ser enviadas através do correio económico dos CTT no regime especial para a Guiné-Bissau. Por cada encomenda até 2kg paga-se € 2,98. As encomendas devem estar endereçadas a:
Ofertas PASEG - Cooperação Portuguesa
Apartado 24 Bissau, República da Guiné-Bissau

Todas as ofertas serão encaminhadas para as Oficinas em Língua Portuguesa nas Escolas do ensino Básico e Secundário onde o PASEG trabalha ou serão oferecidas directamente aos alunos e professores Guineenses pelos professores do PASEG.
As crianças guineenses agradecem todas as ofertas com um sorriso enorme e um brilho especial no olhar!

Escola debaixo da árvore


As árvores servem para dar frutos, oxigénio, sombra e, neste caso, servem também para abrigar uma escola nómada que funciona debaixo de uma mangueira, pé di mango, em crioulo. 

O Mister Mondjano é o professor que lecciona nesta escola e é também o responsável pela sua existência há tantos anos, que nem ele sabe quantos. Sempre ensinou os mais pequenos, desde que ele próprio era pequeno. A escola já funcionou debaixo de outras árvores, mas agora é neste espaço que as 78 crianças desde os 3 até aos 12 anos frequentam as aulas.

Desde a pré-primária até à 4ª classe, os alunos vão a esta escola privada com o banco ou a cadeira à cabeça, trazida de casa, pois a escola não tem esse tipo de materiais. No final do dia lá regressam eles a casa com o banco à cabeça e mochila às costas. Os recursos visíveis são dois quadros gastos pelos anos encostados ao muro, dois bancos para o professor pousar as suas coisas e uma bacia.

Alguns têm livro de leitura, a maioria tem caderno mas TODOS sem excepção têm um enorme sorriso e um brilhozinho nos olhos muito especial de cada vez que o flash dispara. Se a alegria é tanta ao ver a máquina a fotografar, imaginem quando estas crianças receberem um presente enviado com todo o carinho directamente das crianças portuguesas do Agrupamento de Escola José Saraiva, de Leiria, na Campanha "NÓS COM ÁFRICA"!

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Tchuba na tchubi

Tchuba na tchubi: A chuva está a chover.
A chuva na Guiné-Bissau é algo de extraordinariamente belo. Há diversos tipos de chuva, cada um com a sua beleza e singularidade. Há a chuva que é precedida por uma ventania descomunal que levanta uma nuvem de terra vermelha que se infiltra em todos os recantos. A ventania dura uns minutos e varre tudo o que não está pregado, aparafusado, colado ou não é pesado o suficiente para aguentar o vento. Mal se ouve o vento, vêem-se todas as pessoas a correr para casa, para os carros ou para os taxis. Eu corro também para a varanda para fechar as portadas que irão bater com toda a força se não forem trancadas.
Minutos depois acaba a ventania e a chuva começa a desabar do céu cinzento.

Já vi chuva miudinha, já vi chuva forte, já vi dilúvios que tudo levam. As valas enchem e a água precipita-se pela rua abaixo, num ribeiro vermelho onde bóiam chinelos, sacos, papéis, garrafas, latas, etc.

Estas fotos foram tiradas na última grande chuvada de 2009 em Bissau. Segundo consta no calendário popular, a chuva começa invariavelmente no dia 15 de Maio e termina dia 1 de Novembro. Este ano foi excepção, mas valeu a pena pois nesta altura as chuvas são geralmente de noite e não conseguimos apreciar este espectáculo da natureza.

Desta vez eu estava em casa, no fim de semana comprido. No dia 2 de Novembro comemora-se na Guiné-Bissau o dia dos fiéis defuntos, dia em que se colocam coroas de papel nos cemitérios ou à porta de casa. Desta vez não ouvi a ventania nem vi os relâmpagos que antecedem a maioria das tempestades. Às vezes a chuva acaba por nem cair, mas os relâmpagos transformam-se numa sessão de cinema durante horas, em tespestades secas.

Mal ouvi a chuva, corri para a varanda e logo em seguida voltei para ir buscar a máquina fotográfica. Após uma hora de chuva intensa, a rua tinha cerca de meio metro de água e várias pessoas corriam em várias direcções. Corriam para casa? Corriam para algum sítio seco?
As crianças das fotos acima estão diariamente a pedir esmola "sêmóla, pátrôn", "pati 100 fran". Estes miúdos, que nos seguem por diversas ruas, estavam agora completamente encharcados, descalços e aventuravam-se pelas ruas enlameadas e algumas com água que lhes chegava pela cintura. 

 O Mussa, o rapaz das bananas que tem uma orelha esquisita anda sempre a chatear para comprar bananas "amiga, compra banana". Fica horas seguidas em frente ao portão do nosso prédio à espera que algum de nós lhe compre bananas, até acabar todas e poder ir para casa com o dinheiro. Não sei se vai à escola, mas desconfio que não. Nesta tarde, enquanto eu apanhava uma molha a ver e fotografar a tempestade, o Mussa atravessava a rua com a bandeja cheia de bananas.

Fiquei encharcada, enregelada e o vento fez com que a máquina apanhasse salpicos de chuva por diversas vezes. Decidi ir tomar um banho quente e vestir uma roupa seca. Mal acabei, voltei à varanda e acabei por lá ficar mais uma hora a fotografar, a olhar, a sentir. Numa das vezes em que me aventurei a meter a cabeça mais para a frente e espreitar o fundo da rua, encontrei este toca-toca, o transporte público de Bissau, atolado no dilúvio. Havia vários guineenses a empurrá-lo e, passados uns minutos, ele lá continuou o seu caminho.

Entretanto a chuva abrandou e o nível da água foi descendo lentamente, deixando vestígios de lama e lixo. A cidade regressou à normalidade e esta última chuvada deixou-me com saudades dos fins de tarde a ver os relâmpagos e sobretudo do cheiro a terra molhada, tão especial quanto indescritível.