segunda-feira, 25 de maio de 2009

A vida foi passando

A vida foi passando...
Faz hoje 8 meses que se abriram as portas do avião que me trouxe até aqui e hoje, ao abrir a porta de casa, sinto o mesmo ar húmido que senti ao colocar o nariz fora do avião. Naquele dia, tal como hoje, o calor é imenso e a cabeça está povoada de sonhos e objectivos. Alguns foram-se alterando com o passar dos dias, outros esfumaram-se no calor e outros foram surgindo e enraizaram-se na terra vermelha.
Sou uma professora na Guiné Bissau, mas não dou aulas. Na minha componente lectiva dou formação a professores de EVT e aos professores das turmas piloto da 2ª classe, dinamizo actividades de oficina com as crianças da UCCLA e da Salvador Allende e faço formação do animatrope. Fora do meu horário oficial participo em tudo o que surge e que me desperta o interesse: dinamizo actividades no âmbito da campanha da Escola Limpa, adapto e implemento o teste de identificação de competências linguísticas aos alunos da 1ª classe, ajudo na organização e arrumação da cave, distribuo manuais escolares a centenas de alunos de diferentes escolas, faço reutilização de materiais, pintura facial, cartazes, desenhos, aguarelas, origami, yôga 2x por semana, djambé 2x por semana, passeio pelo interior da Guiné e pelos Bijagós, fotografo muito, passo muitas horas no photoshop a rearranjar as fotos, ajudo nas pinturas das oficinas, oiço música, vejo filmes e séries, leio, medito, entre tantas outras coisas que faço por aqui e que preenchem os meus dias.
Nestes oito meses a viver aqui já aprendi mais que em toda a minha vida pré-África. E há mais, muito mais para ver, perguntar, aprender, ensinar e partilhar. Viver em África é estar em permanente descoberta e em constantes aventuras. Mais do que aprender, aqui reaprende-se a viver.
Reaprendi a ver mais com o coração, reaprendi a confiar mais nos meus sentidos, reaprendi a prestar mais atenção aos pormenores, reaprendi a estar mais alerta para o que me rodeia, reaprendi a desprender-me de pesos inúteis, reaprendi a estar longe dos amigos de sempre e da família, reaprendi a mostrar às pessoas o quão importantes elas são para mim, reaprendi a fazer uma criança sorrir, reaprendi a espalhar a arte, reaprendi a aproveitar cada momento, reaprendi a cumprimentar as pessoas que passam por mim, reaprendi a descobrir as diferenças e semelhanças culturais, reaprendi a estar em comunhão com a natureza, reaprendi a agradecer diariamente as vivências que tenho, reaprendi a ser eu.
E o mais importante de tudo é esta aprendizagem ser um processo contínuo e aberto!
Há ainda muito caminho a trilhar nesta terra solarenga onde tudo tem uma cor especial!

4 comentários:

Um pai que não sabe o que faz disse...

África pode, de facto, mudar-nos por completo, não é, Telma? Fico contente por estares a sentir tudo isso, significa que estás de corpo e alma nessa tua missão. Só assim de facto podemos fazer a diferença, seja em que parte do mundo for.

Boa sorte e muitas aventuras para o tempo que te resta.

Beijos, Ricardo Perna

anamelo disse...

Telma:
Adoro ler os seus pensamentos e comentários às fotos lindas que aqui mostra aos que acompanham esta sua viagem fascinante. Só espero que um dia quando ensinar aqui em Portugal mantenha essa alma sonhadora...é disso que precisamos, pois aqui perdemos a capacidade de sonhar...

Cris - Tininha disse...

Hello, Telma! É fantástico ver a tua missão e dedicação em terras Africanas. Muitas pessoas dizem que gostariam de fazer isto e aquilo, etc... Mas tu lançaste essa tua vontade e foste atrás dela... e aí estás tu. Admiro-te muito pela coragem e ainda bem que é a concretização de um sonho e de um objectivo. Gosto sempre de vir aqui ver as fotos e acompanhar o que partilhas. Obrigada!

Cris

Unknown disse...

Oi Telma,
Sei que visitaste o meu blog e agradeço-te pelo comentário deixado nele. Gostei de saber que temos 2 coisas em comum:
- o Yôga (filosofia de vida que aprendi a incorporá-la diariamente. Gostei tanto que me formei e hoje lecciono na unidade da Amadora)
- e esta vontade que nos caracteriza (e que senti neste texto) de agarrar o mundo e de vivê-lo de uma forma simples e única. Adorei a tua descrição do que sentiste e do que voltaste a reaprender. Identifiquei-me com a tua experiência. Um dia também eu já parti em missão, onde vivi 4 meses nas favelas da bahia no Brasil. Uma experiência única que guardo dentro de mim e numa vontade borbulhante de partir para outros locais, vou deixando esta vontade crescer... quem sabe um dia não nos encontremos por aí???? Quem sabe?
Vou seguir o teu blog atentamente.
Beijos
Nélson Ramalho