A língua oficial da Guiné-Bissau é o Português mas, devido a vários factores, a língua veicular e falada pela maioria da população é o crioulo. Para além do crioulo, cada etnia tem a sua própria língua. Uma vez que a Guiné é um misto de inúmeras etnias, o multilinguismo é uma realidade bem presente. No entanto, a língua portuguesa não está presente nas casas guineenses, nem na comunicação social que é essencialmente em crioulo.
Como resultado, as crianças chegam à escola sem saber falar português e são ensinadas a ler e escrever numa língua que não é a sua e na qual não têm qualquer tipo de referência. A verdade é que os alunos chegam ao ensino secundário com muitas falhas na língua portuguesa, principalmente em termos de compreensão e expressão oral e escrita.
Numa tentativa de facilitar o processo de ensino e aprendizagem, surgiu na EEBU Salvador Allende, em 2007, o "PRIMEIRO O PORTUGUÊS" em duas turmas da 1ª classe. Antes da iniciação ao método de leitura e escrita, houve três meses de oralidade e contacto com a língua.
Neste segundo ano das turmas piloto, essas duas turmas iniciais estão na 2ª classe e há quatro novas turmas da 1ª classe. Eu estou mais ligada às turmas da 2ª classe e a maior parte do meu horário é concentrado em planificações de conteúdos e actividades, observações das aulas e formação às duas professoras guineenses que leccionam essas turmas. Temos tentado que a língua portuguesa seja o cerne das aulas destes alunos, que já melhoraram bastante ao nível da expressão oral. Em termos de leitura e escrita, optámos pelo método das 28 palavras e, apesar de irmos a um ritmo lento dadas as dificuldades na compreensão da língua e do vocabilário, vejo que o longo caminho já percorrido está a dar frutos, pois muitos dos alunos já conseguem realizar as actividades propostas e já começam a dominar o mecanismo da leitura e da escrita.
Para além da língua portuguesa, há obviamente a componente da matemática e ciências integradas. As actividades artísticas surgem como complemento às aprendizagens e, nesta foto, os alunos estavam a apresentar a peça de teatro "A Senhora Roda dos Alimentos", que será apresentada posteriormente no Sarau do PASEG.
O horário lectivo é muito reduzido (das 8h às 10h e das 10h30 às 12, de 2ªf a 6ªf) e há uma série de obstaculos que fazem com que os alunos por vezes percam o ritmo. Para além disso, as inúmeras greves de professores (que têm invariavelmente diversos salários em atraso), as paragens devido aos atentados e assassinatos dos chefes de estado, a insegurança, entre outros factores, contribuem para que este ano lectivo esteja a ser atribulado e com paragens sucessivas. Quem sofre são, obviamente, os alunos que acabam por ter quebras irreparáveis no ritmo da aprendizagem.
A Suénia é uma das melhores alunas da turma. É alta, magra e espertalhona. Tem sempre a resposta na ponta da língua e é uma das ajudantes mais desenrascadas da professora.
É difícil conseguir que todos façam os trabalhos de casa, pois a maioria dos alunos têm de realizar tarefas domésticas e à noite não há electricidade para escrever nos cadernos. A Deolinda disse há umas semanas que teve muita roupa para lavar e depois "a mão cansou"... Assim, é necessário trabalhar com mais afinco durante o período lectivo, para colmatar a falta de apoio em casa, onde por vezes ninguém fala português.
Os 41 alunos das turmas da 2ª classe são os que melhor falam português de toda a escola Salvador Allende, em grande parte por só se falar em português dentro da sala de aula e também fora dela, sempre que possível. Este progresso mostra que é possível e que vale a pena investir no ensino da língua o mais cedo possível, de forma a criar fundações sólidas no conhecimento dos alunos.
Sem comentários:
Enviar um comentário