quarta-feira, 13 de maio de 2009

Bissau tour

Para tentarmos conhecer melhor a cidade de Bissau para além dos circuitos habituais, enfiámo-nos num taxi e fomos fazer um tour onde redescobrimos a capital guineense. Visitámos alguns dos pontos de interesse histórico ou cultural e diversos bairros. Um dos muitos carrinhos dos vendedores de bolos, coconetes, donetes, gelados (fon-fon), etc. Este carrinho vende uma espécie de bolas de Berlim sem recheio a 50fCFA (0.075€). Já as comi numa banquinha ao pé da rua da Embaixada e eram deliciosas!
A Catedral de Bissau, perto da Praça e no centro de Bissau.
Bissau Velho, com resquícios arquitectónicos da época colonial. Não contem a ninguém que eu tirei uma foto às autoridades...
De uma das vezes que passeei em Bissau Velho, algumas das ruas pareciam as ruas de Lisboa nos Santos Populares, com luzinhas de bailarico.
Uma cabaceira no meio de um dos muitos terrenos para o cultivo do arroz, as bolanhas. Na época das chuvas a água permite o cultivo de um dos produtos mais importantes da Guiné. O arroz é a base da alimentação guineense durante todo o ano, acompanhado de mafé (acompanhamento de batatas, caldo, carne ou peixe).
Estádio Nacional 24 de Setembro.
Porto do Alto do Bandim, local de onde saem as canoas para as ilhas do Arquipélago dos Bijagós. as canoas são o meio de transporte mais utilizado pela população. Nem sempre oferece muita segurança, mas há alguns meses decretaram ser obrigatório o uso de coletes salva-vidas para todos os passageiros. As canoas são também utilizadas para a pesca e transporte de mercadorias. Com a maré baixa, canta-se, arranjam-se as redes, remenda-se a canoa e fazem-se trocas comerciais enquanto se espera a subida da maré que irá disfarçar a quantidade de lixo entranhado nas margens. O porto funciona como lota e é onde também se arranjam redes e se vendem utensílios da faina.
Continuando a viagem, passámos pelo mercado do Caracol que, em conjunto com o mercado do Bandim, são os maiores de Bissau. Aqui encontra-se de tudo, mas mesmo tudo. O preço é que pode não ser atraente, principalmente se o tom de pele for europeu. Se não houver no Bandim algum produto, é porque não existe na Guiné.
Vêem-se pelas ruas de Bissau e também no interior da Guiné o que resta das instalações de electricidade pública que outrora funcionaram em pleno e hoje, devido a vários factores, estão maioritariamente destruídas ou inutilizadas. Há alturas em que existe electricidade pública, mas não é constante. Desde que cá estou, há quase 8 meses, só vi uma vez uma rua iluminada após o cair da noite. Depois de passarmos pela zona sete e pelo Caracol, atravessámos a Avenida principal de Bissau e fomos redescobrir o outro lado da cidade.
Passámos pela Aldeia SOS, Liceu Samora Moisés Machel, Escola Normal 17 de Fevereiro (escola de formação de professores do ensino básico) e Escola Normal Superior Tchico-Té (escola de formação de professores de ensino secundário). Um pouco antes da da UCCLA, parámos para ir ver o cemitério muçulmano onde está sepultado o Brigadeiro Ansumane Mané. Em frente à Aldeia SOS há tijolos e blocos feitos com terra/lama e secos ao sol. Diz-se que as casas feitas com este material duram mais tempo.Mulheres, homens, crianças e idosos andam pelas ruas da Guiné com os mais diferentes objectos à cabeça e geralmente nem precisam segurar com as mãos. Os "tanques" amarelos e brancos fascinam-me pela forma como são amarrados e transportados à cabeça, nos carrinhos de mão ou no tejadilho das candongas. São utilizados para transportar água, combustível, vinho, etc. Na Avenida da Granja existe a maior concentração de vendedores de sumo e vinho de caju nestes "tanques". O cheiro, esse, é indescritível...
Há poucas semanas a acácia rubra despertou e as ruas da Guiné ficaram com um encanto especial em tons de vermelho. Esta espécie de acácia é lindíssima e transforma por completo toda a paisagem.
Não conheço a história que esta casa de madeira esconde, certamente pertencente a estrangeiros, mas achei curioso este inédito arquitectónico em África.
A zona de Antula pareceu-me interminável, num emaranhado de casas com uma traça bastante diferente do resto de Bissau. Não tinha noção de quão grande e diversificada é a periferia da capital.
A maioria da população guineense não tem água canalizada em casa e, por isso, está bem presente a rotina de ir buscar água em bacias e baldes. Esta tarefa compete geralmente às mulheres e por vezes às crianças, que transportam a água geralmente à cabeça num equilíbrio de anos repletos de idas à fonte, poço ou torneira. De madrugada (e mais vezes ao dia, dependendo da necessidade) vai-se buscar água para cozinhar, lavar a roupa, laba curpu (tomar banho) de caneco, lavar a loiça, entre tantas outras situações em que a água é uma necessidade primária e que nós, europeus, nem nos damos conta da complexidade de não haver uma torneira que tantas vezes abrimos quando estamos confortavelmente nas nossas casas.
- Brancu m'pelelé!
- Pretu m'bau!
Depois da passagem pelo Bairro de São Paulo e da compra de um cesto giríssimo por 150f CFA (0.23€), passámos pela zona onde é despejado o lixo que é recolhido em Bissau. Seguindo viagem, encontrámos mais bolanhas onde se cultiva o arroz e onde já se vêem os preparativos para a chegada da chuva. A água salgada é separada da água proveniente das chuvas através de uma espécie de represa que parece um pequeno ribeiro. Nestas semanas que antecedem as chuvas, cada bolanha está a ser preparada para ser cultivada. Nesta zona já se vê o verdinho do arroz. A paisagem é bastante diferente daquela onde eu via os arrozais na estrada nacional entre Tomar e Lisboa, "há muito, muito tempo, era eu uma criança".
De volta à Avenida 24 de Setembro, o Poilão de Brá marca um episódio da história da Guiné-Bissau, quando foi derramado sangue na guerra de 7 de Junho. Depois do Poilão de Brá, no sentido do centro de Bissau, estavam os "Aguentas", as forças leais ao Presidente Nino Vieira. Antes do Poilão de Brá, no sentido do aeroporto, estava a Junta Militar.
A Chapa é a zona da intersecção entre a Avenida 24 de setembro e a Avenida da Granja. É aqui que começa o Bandim e o Caracol e é um local onde se vendem hortaliças e fruta, para além dos típicos tachos feitos de alumínio das latas derretidas. A sua cor muito brilhante é resultado de uma camada de tinta prateada antes de serem vendidos. Do outro lado do cruzamento há a "fuca", a zona onde se vendem roupas novas ou usadas, aos montes espalhados pelo chão ou pelas barracas de quirintim que ainda sobrevivem desde o carnaval de Bissau.

1 comentário:

Anónimo disse...

a casa da madeira que referi, é a única que restou,fazia parte de um conjunto Habitacional(grupo de casas )habitadas pelos menbros de alta patente militar das forças armadas da guiné nos anos 80 á 2000, no Bairro Q.G(quartel general)