sexta-feira, 29 de maio de 2009

A Baixa de Bissau

Durante os cinco anos que vivi em Lisboa houve diversos locais onde me refugiei sempre que era possível. Muitas foram as horas passadas na Torre de Belém com pastéis quentinhos, no verde dos jardins da Gulbenkian, no ar urbano do Parque das Nações e, mais frequentemente, na Baixa de Lisboa. Ir à Baixa requer sempre um belo passeio desde os Restauradores ou Rossio até ao Largo Camões, passando sempre pelo Terreiro do Paço e Armazéns do Chiado. Muitas foram as vezes que me sentei e desenhei as pessoas e os edifícios, ou simplesmente vagueei pelas ruas observando a vida imparável à minha volta. Ir à Baixa era fugir da rotina e apreciar simplesmente a magia do paralelismo das ruas que contrasta com a diversidade cultural que nos abraça.
O paralelismo que faço entre a Baixa de Lisboa e a Baixa de Bissau não tem a ver com as ruas, nem com a agitação cosmopolita, nem com as cores, nem com os aromas, nem com os edifícios. O que aproxima os epicentros das duas capitais está, na minha perspectiva, relacionado com as pessoas e com a forma como se adaptam à vida que as rodeia. Alguns dos produtos que vejo aqui à venda fazem-me lembrar a estreita rua que liga o Martim Moniz ao Rossio e onde também há banquinhas que vendem mandioca e alguns outros produtos que presumo serem exportados de África para a Europa.
Já partilhei fotos de Bissau aqui, aqui e aqui. Desta vez a viagem é até ao centro da cidade de Bissau, onde os odores da fruta, vegetais e de inúmeros outros produtos que são vendidos se mistura com o pó vermelho que anda pelo ar enquanto a chuva não se instala.
A Praça Che Guevara reúne a esplanada da Baiana, o Caliste, o Casino, a Policlínica e o Centro Cultural Francês. Seguindo pela rua principal, há o Banco da União Africana e, mais à frente, o epicentro comercial.
Lá ao fundo, no ponto de fuga da imagem, é um dos portos de Bissau onde atracam barcos e canoas vindos dos Bijagós e cidades da costa guineense. Tal como em muitos outros pontos da cidade, as pessoas ficam sentadas com os seus produtos à frente, em cima de bancos, caixas, cestos ou simplesmente no chão. Para além dos vendedores, há sempre os ajudantes e os que não fazem nada para além de observarem o passar dos dias.
Haja dinheiro e paciência para regatear e tudo se pode comprar. Para além das bancas, há também os vendedores que andam pelas ruas da cidade a vender vassouras, cestos, banana, mancarra, manga, castanha de caju, cartões de saldo da MTN ou Orange.Ainda há sempre a possibilidade de câmbio, chá, warga, café, engraxar os sapatos, amolar lâminas, lavar o carro, entre inúmeros serviços que se podem encontrar. Na foto, o vendedor tenta regatear o veludo, uma espécie de semente vermelha que vem de vagens e até agora só provei em sumo de veludo, farroba e cabaceira.

Houve outrora um mercado central que ardeu e temporaria(permanente)mente as bancadas deslocaram-se para os passeios da rua principal. Nessas bancadas pode-se comprar um pouco de tudo, desde a fruta e legumes, peixe, roupa, calçado, artigos de papelaria, tabaco, ferramentas, entre muitos outros artigos.

As cores dos produtos alimentares são o que mais me fascina. Sempre que por aqui passo, parece que estou numa galeria ao ar livre a olhar para uma tela de um qualquer pintor que mistura as cores quentes em texturas e padrões magníficos. Fico deslumbrada com as cores e também com a forma como cada vendedeira dispõe os seus produtos em montinhos muito alinhados e certinhos. O centro da cidade é um óptimo complemento ao mercado do Bandim, para além de ter supermercados com produtos europeus de marcas bem conhecidas a preços muito inflaccionados e nem sempre abundantes, pois dependem da chegada de contentores e do tempo para os desalfandegar.
Basta ir a passar na rua ou pensar em aproximar-me de uma vendedeira e começa o frenezim terrível dos berros "branco", "amiga", "barato", "qui qui bu misti?", entre muitas outras frases que, de tão decoradas que estão, saem de todas as bocas quando um branco se aproxima. Segue-se uma mostra de todos os produtos que são sempre frescos e acabam por vir para casa em grande quantidade pois, depois de muito regatear, em vez de conseguir baixar o preço, trago um saco cheio por pouco menos que o preço inicial.

3 comentários:

anamelo disse...

Sim...também concordo que a vida das pessoas em cidades tão diferentes podem ser semelhantes.A vida, com a sua beleza, problemas, conflitos, surpresas e rotinas é a mesma, a maneira de a viver é diferente. Telma, oxalá continue a apreciar a vida daí como fazia com a daqui!

Espalharte disse...

A vida aqui é muito diferente, mas muito semelhante à de qualquer cidadão do mundo. Há muitos sucessos e diversos obstáculos a ultrapassar, como em todo o lado. Há mercados, lojas, carros, pessoas, e muitas mais coisas que se repetem pelas capitais de todo o mundo. A grande marca de Bissau, a meu ver, está nas cores, aromas, ritmo e alegria que se sentem a cada passo.

Angela disse...

Apesar de ser um pais diferente a coisas muito semelhantes as nossas, como a vida no dia-a-dia!