Cidade rural

Na Guiné o avanço tecnológico ficou parado no tempo. À excepção dos telemóveis topo de gama que todos os guineenses têm, a maioria da população vive com recursos muito limitados. A realidade é que a electricidade pública não funciona, para além de não haver água corrente nem saneamento. Para terem água em casa, os guineenses recorrem a fontes ou poços, o que alimenta a propagação de doenças. Só uma minoria das pessoas que vive na Guiné é que pode usufruir de certos luxos, como ter electricidade através de geradores. A maioria da população carrega os telemóveis em casas de amigos, nos locais de trabalho ou nos "quiosques" onde se paga para carregar a bateria do telemóvel. Os alfaiates trabalham apenas com a luz do sol que entra pela porta e utilizam ferros de brasas. Um talho guineense é uma banca de madeira já toda torcida, um pedaço de cartão e, por cima, nacos de carne com moscas verdinhas. No meio da rua e a céu aberto, com uma catana ao lado da carne, regateia-se o preço de algo que, mais uma vez, não está acessível a todos. A peixaria é muito semelhante, mas acresce de um odor nauseabundo! Nas tabancas e nas ruas, à noite, vêem-se as chamas ondulantes das velas que iluminam a vida entre o pôr do sol e a hora de deitar.

Há sempre uma imensidão de bicharada espalhada pelas ruas. Bissau é realmente uma cidade rural, onde encontramos a passear livremente nas ruas inúmeros porcos, cabras, galinhas, pintos, vacas, cães, gatos, etc. Já descobri que há etnias que comem gato e cão em ocasiões específicas. O que não é assim tão nojento, considerando que eu em Portugal me delicio com caracóis. O que me fez mesmo impressão foi ver 2 macacos mortos à venda no mercado do caracol, na Chapa. Um estava chamuscado e o outro ainda tinha todo o pêlo. Estavam os dois dentro de um saco com os dentes à mostra, à espera de um potencial comprador. Umas semanas depois, em Bafatá, vi uma rua cheia de vendedoras sentadas à beira da estrada com panelas à frente. À minha pergunta reponderam-me que era macaco, numa espécie de guisado. Quis ver, claro! Aproximámo-nos de uma vendedora e, em criolo, uma colega perguntou se nós podíamos ver o macaco e, com um ar muito surpreendido por alguém querer ver a coisa mais natural do mundo, disse-nos que sim. Era de noite e eu apontei a minha popular lanterna à manivela para a panela que continha um misto de sopa e guisado de macaco. Viam-se diversos pedaços de carne e, no centro, estavam os dentes do pobre animal a boiar. A imagem que me veio à cabeça foi a dos dentes de uma criança, pequenos e finos...

Cuidados a ter:
Assaltos, buracos das estradas, mercado do Bandim, atropelamentos, cólera, mosquitos, paludismo, águas paradas, etc.
Tenho de tomar banho de boca fechada, lavar os dentes com água fervida, não beber nada com gelo, não comer saladas, descascar toda a fruta, ferver a água, utilizar repelente ao amanhecer e entardecer, ténis a partir do final da tarde com meias altas, não fotografar autoridades, ter o telemóvel, lanterna e documentos ao lado da almofada.

Estou fascinada com:
Árvores, borboletas, libelinhas, cores, pessoas, tecidos, música, mercados, vegetação muito verde e abundante, movimento nas ruas, buracos nas estradas, comida, artesanato, chuvas, tempestades, cheiros, diversidade cultural, animais no meio das ruas, ilhas, praias, entre muitas mais coisas que embelezam os dias neste país.