quinta-feira, 30 de abril de 2009

Concertos em Bissau

Para matar saudades de me sentar numa sala de espectáculos e ouvir boa música ao vivo, fui ao concerto do "Joven Binhan" no Centre Culturel Franco Bissau Guinéen. Este conjunto de músicos guineenses brindou-nos com ritmos africanos modernos com uns laivos das suas raízes musicais. Fascinou-me, acima de tudo, o som saído da cabaça transformada em instrumento de percussão.

Há umas semanas atrás assisti, no mesmo espaço, a um concerto de vários músicos e jovens talentos que misturaram a modernidade com a tradição, quer nos ritmos, quer nos trajes e danças. Deslumbrei-me com todos os pormenores das roupas e com a diversidade que cada artista levou ao palco. Deslumbrei-me ao ver as cores e ritmos misturados em danças ancestrais de luz e e tradição.
Numa bacia com água, esta cabaça deixou o som do batuque ecoar pela sala, aguçando a minha curiosidade para experimentar este instrumento de percussão que pode ser utilizado a seco ou com água. Vou experimentar com a minha fruteira.
Enquanto não experimento na cabaça, vou treinando os ritmos no djambé nas aulas com o Mamadu da tabanca de Tabatô que nos está a ajudar a dar os primeiros passos na percussão africana, no Centro Cultural Português. Até tenho jeito para o djambé e parece-me que darei continuidade a esta descoberta em Portugal!


Ainda na área da cultura musical, fui à festa do Liceu Dr. Agostinho Neto, onde se reuniram professores,visitantes e, sobretudo, muitos alunos. Houve diversos concursos, entre os quais o concurso de misses e o de playback, onde os alunos se inscreveram e encarnaram diversas personagens. Algumas das actuações mostraram-me como este povo está ainda profundamente marcado pela guerra e pela figura do herói nacional Amílcar Cabral. O denominador comum de todas as participações e do espírito de toda a festa foi a alegria e a boa disposição profundamente contagiantes!

segunda-feira, 20 de abril de 2009

Invisível aos olhos

"Eis o meu segredo: só se vê bem com o coração. O essencial é invisível aos olhos. Os homens esqueceram essa verdade, mas tu não a deves esquecer. Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas." (Antoine de Saint-Exupéry )
É nas palavras do autor do Principezinho que encontro o segredo da Guiné-Bissau e da África que conheci até agora. Os meus olhos e os da minha máquina fotográfica serão sempre os olhos de alguém de fora que olha estas gentes e estas terras sob uma perspectiva influenciada por todas as vivências que fazem de mim o eu que eu sou.
A realidade africana fez-me mudar a minha visão do mundo e fez-me centrar a minha atenção e algumas das minhas acções naquilo que os olhos não vêem. A beleza, essa, eu vejo-a em toda a parte e tento retratá-la o melhor que consigo, embora por vezes me fujam as palavras para descrever as minhas aventuras e o meu quotidiano aqui. Mas a beleza que eu vejo está muito mais nas pessoas, na sua perseverança e garra mesmo quando as condições são inimaginavelmente precárias. Na Guiné o essencial é quase tudo, mas não há nada que realmente falte quando uma criança sorri. O sorriso de uma criança guineense tem um brilho especial e tem o poder de parar o mundo, pelo menos o meu mundo. Adoro ver as escolas cheias e as crianças dentro das salas de aula a aprender. Desde que cá cheguei, tornei-me eternamente responsável por aqueles com quem me cruzo e espero conseguir contribuir positivamente durante esta minha aventura em que, por vezes, me parece que recebo mais que aquilo que dou.
Adoro sentir o pulsar da agitação cosmopolita de Bissau que contrasta com o silêncio apaziguador das ilhas. A vida aqui tem um ritmo diferente, as pessoas têm tempo para conversar umas com as outras e para conviver em família. Pelas ruas encontram-se amigos, conhecidos e desconhecidos e todos param para conversar um pouco. Os alimentos são sempre fresquíssimos e deliciosos, principalmente a fruta e peixe. A "mindjer garandi" e o "omi garandi", ou seja, os sábios idosos são muito respeitados e grandes marcos da cultura africana. Os produtos típicos daqui são igualmente fascinantes, quer pelas cores, quer pelas diferentes utilizações e reutilizações que lhes são atribuidas. Cestos, cabaças, panos, trajes tradicionais, instrumentos musicais, ritmos, música, artesanato, tachos, entre muitos outros ícones desta cultura, preservam a magia desta terra que, depois de se estranhar, se entranha em quem por aqui passa.
E mais uma vez a história do Principezinho me acompanha, não só no discernimento de tentar perceber o que é realmente importante, mas também nos embondeiros que tanto admiro e que me fazem manter os pés no chão e a cabeça nas núvens. Estou irremediavelmente apaixonada por este pedaço de mundo!

Caju


O verdadeiro caju é este fruto que, quando maduro, é avermelhado. Àquilo que em Portugal chamamos "caju" é na verdade a "castanha de caju" que tem uma casca dura a revestir e tem de ser assada para depois ser descascada. O caju é o produto guineense mais exportado e uma das principais fontes de rendimento, a par do arroz e peixe. O fruto tem um cheiro muito característico e inconfundível e, mal se sai de Bissau, começam a ver-se inúmeras árvores com frutos vermelhos ou alaranjados pendurados. Há cajueiros por todo o lado e, nesta época, há fruto de caju à venda um pouco por toda a parte. Para além do fruto, vende-se também bastante sumo de caju, que fermenta em poucas horas e tansforma-se em vinho de caju. O vinho de caju é muito comercializado e muito barato. Muitas vezes, ao final da tarde, os vendedores acabam por oferecer o vinho (ou aguardente) para despejarem os recipientes e os voltarem a encher para vender no outro dia. Do vinho, pelo cheiro, nem me consigo aproximar. O sumo também não me convenceu, mas o fruto, esse, adorei comê-lo debaixo da árvore em Biombo. Fiquei toda pegajosa e pingada, mas aquele sabor ligeiramente ácido é delicioso... O caju é rico em vitamina C e tem uma textura fibrosa. Há quem coma todo o fruto, mas eu sorvo o sumo e deito o resto fora. Cá em casa tem havido sempre castanha, que é vendida já assada e descascada. Em Portugal só conhecia caju salgado ou picante, mas aqui não há dessas coisas. A castanha é comida ao natural e tem um sabor adocicado e viciante!

sábado, 18 de abril de 2009

Ilha de Orango Grande, Arquipélago dos Bijagós

A aventura para a ilha de Orango Grande no Arquipélago dos Bijagós começou numa viagem de candonga até Biombo, onde apanhámos as lanchas. Apesar da maluquice inata, não me aventuro nas débeis canoas que fazem travessias entre as ilhas e o continente.
Aproveitei o tempo de espera para fotografar a cabaceira (ou embondeiro), as pirogas, os pescadores, as crianças. Uma das imagens mais marcantes de África é uma criança às costas enrolada num pano e geralmente a dormir ou sonolenta. Um guineense regressava numa piroga com palha que servirá para revestir o telhado das casas da tabanka. Por vezes essa palha é colocada por cima das chapas de zinco, ou então directamente sobre a estrutura de madeira das casas de tijolos feitos de lama. Como não podia deixar de ser, meti-me logo com as crianças que por ali andavam a apanhar castanha de caju e a comer o fruto do caju.
Uma "badjudinha" a comer caju e toda babada, pois o sumo escorre e pinga tudo quando comemos o fruto.
"Ami pudi tira postal?"
Como é possível resistir a estes sorrisos...?
Os "mininu" de Biombo a posar para a foto e a mostrar as castanhas de caju. No meu melhor criolo, consegui manter uma conversa mais produtiva que em Bissau. Num criolo mais perceptível e mais semelhante ao português, os miúdos ensinaram-nos o nome de tudo o que nos rodeava: "essi pé di kabasera", "essi baka", "essi kuku".
As mulheres na Guiné metem-se dentro de pirogas e vão, também elas, buscar lenha e outros recursos de que necessitem.
Já dentro das lanchas e com os coletes salva-vidas, partimos em direcção aos Bijagós sob o olhar atento dos muitos guineenses que se juntaram por baixo da cabaceira a ver os barcos partir.
4 horas depois (com mar tranquilo e sem nenhum incidente), chegámos finalmente à Ilha de Orango Grande. Na viagem lindíssima mas cansativa vimos diversas ilhas, entre as quais Maio, Formosa e Uno. Na bagagem levei sede de descanso, silêncio e comunhão com a natureza. E, se a natureza quiser, a espectativa era de ver hipopótamos, crocodilos, tartarugas e golfinhos.
A vegetação da Guiné é muitíssimo vasta e as árvores são o que mais me deslumbra neste país. Desta vez encontrei uma árvore cujo fruto (ou flor, não sei) se assemelha ao do plátano. A textura destas bolas vermelhas é igual às do plátano, mas parecem-se também com medronhos gigantes. Fez-me recordar os tempos de 2º e 3º ciclo e as brincadeiras com o pó de macaco que dá uma comichão tremenda. Lembrei-me também das viagens no 746 ou 716 ao passar na Praça de Espanha quando ia para as AEC e não conseguia respirar por causa da alergia ao algodão que invadia toda a cidade.
O primeiro passeio sem rumo na ilha de Orango levou-nos à tabanka de Eticoga, a maior das cerca de 30 tabankas da ilha. Na foto pode ver-se no centro um jardim de infância "Jardim de Eticoga" em kirintin.
Um pouco mais à frente encontrámos um funcionário do Hotel, o Guerra, que fez de nosso guia e nos levou a conhecer a esta tabanka lindíssima onde ele nasceu. Na foto pode-se ver o mercado e algumas casas. Ao centro, um dos muitos montes de palha para os telhados. Há também uma mangueira, como na maioria das fotos, pois é das árvores que mais abundam na Guiné.
O pau espetado na terra com umas ervas penduradas simboliza os locais sagrados ou onde se fazem as cerimónias. O povo que mora nesta tabanka é da etnia Bijagó.
O sítio mais visitado da tabanka de Eticoga é o túmulo sagrado da Rainha Pampa, que protegeu a ilha da Guerra. Dentro destas paredes estão sepultados os corpos das Rainhas e Régulos da família real.
Esta é a porta que dá acesso ao interior e foi esculpida por um dos habitantes desta tabanka. O Régulo da Tabanka faleceu em Janeiro deste ano e, como ainda não foram feitas as cerimónias para o novo régulo, este "Omi garandi" contou-nos a história da Rainha Pampa (em criolo, e o Guerra traduzia para português). Entrámos com muito cuidado para não tocar na porta sagrada, pois tinham-nos dito anteriormente que quem nela toca tem de pagar uma vaca.
As placas de madeira com o nome de cada rei assinalam cada monte de terra deste local sagrado. O Guerra foi traduzindo a biografia, árvore genealógica e feitos de alguns dos reis desta tabanka. Aqui foram sepultados apenas os reis que pertenciam à família da Rainha Pampa. Os restantes são sepultados nas suas casas, como aconteceu com o recente régulo falecido.
Seguiu-se a visita pela tabanka de Eticoga, cumprimentando todos os transeuntes que olhavam os brancos que por ali passeavam. "Boa tarde, i kuma?" "Stá dritu?"
Passou um homem por nós a grande velocidade e em visível esforço físico, pois carregava tijolos que servirão para construir uma casa.
Local onde os tijolos são feitos a partir da terra, recorrendo a moldes em madeira ou metal. Ficam depois todos empilhados a secar.
Na visita à horta da tabanka, vimos uma árvore cheia de ninhos de tecelões, uns pássaros amarelos e pretos lindíssimos e muito barulhentos.
O Guerra tem 18 anos, já concluiu a 11ª classe em Bubaque (uma das ilhas dos Bijagós), trabalha há muitos anos no Orango Parque Hotel. Em Bubaque também trabalhou na hotelaria para pagar os estudos, mas nas férias regressava para trabalhar no Hotel de Orango. Já trabalhou também em Bissau e é para lá que pretende ir estudar no ensino universitário. O Guerra tem uma namorada em Orango, muitos irmãos entre os quais dois que trabalham com ele no Hotel e fala um português impecável e melhor que muitos alunos e até professores de Bissau. Na foto na Casa do Ambiente, o Guerra mostrou-nos o crânio gigante de um hipopótamo que encontraram a estragar as bolamas de arroz e mataram. Ele também provou e diz que é delicioso. No entanto, o Parque Nacional das Ilhas de Orango é zona de reserva há multas severas para quem desrespeita o habitat natural.
Uma fechadura esculpida em madeira, igual a uma que ainda é utilizada numa casa da tabanka. A chve, essa, tenho dúvidas que caiba num bolso (parte de madeira alongada com os buracos enfiada na fechadura do lado direito).
No lado direito está o "hospital" e do lado esquerdo está a escola da 1ª à 4ª classe. Uns metros atrás fica a escola da 5ª e 6ª classe, construida recentemente. quem quer continuar os estudos terá de ir para Bubaque ou Bissau.
O habitual campo de futebol onde os jovens passam muito do seu tempo. Orango foi vencedora de vários campeonatos a nível nacional nos últimos anos.

No caminho de regresso optámos por caminhar pela areia branca e fina.
Encontrámos um grupo de crianças que regressavam a Eticoga, depois de uma tarde a apanhar berbigão, "combé".
A alegria e a euforia transbrordaram quando se viram retratadas na minha máquina fotográfica. Os meus tímpanos iam sofrendo danos irreparáveis, tal eram os decibéis que os gritos de felicidade atingiram. No regresso ao hotel, fui presenteada com o mais belo pôr-do-sol africano.
No 2º dia embarquei numa aventura que se assemelhou a um safari. Mas, em vez do jipe, fomos de lancha e a pé. Faltou a roupinha de safari e binóculos... Na viagem magnífica vimos imensas espécies de aves, peixes e vegetação, para além das praias lindíssimas das margens do rio onde entrámos.
À medida que avançávamos através da vegetação cada vez mais densa, começámos a ver mais mangais e o rio começou a estreitar.
O resto do caminho foi feito a pé. Só que o resto do caminho implicou uma caminhada nojenta dentro das águas pantanosas onde eu só imaginava a quantidade de micro-organismos que andava por ali e... os crocodilos e hipopótamos que podiam aparecer a qualquer momento!!!
Pelo caminho, até chegarmos não se sabia ainda bem onde, encontrámos uma "cabana" onde biólogos e observadores esperam pela passagem de hipopótamos.
Mais uma vez a vegetação mudou completamente e parecia que íamos entrar na selva.
Chegámos entretanto a uma tabanka completamente isolada de qualquer vestígio de desenvolvimento. Fomos recebidos por um "omi garandi" de catana na mão que fez questão de nos cumprimentar a todos com um aperto de mão. Ao caminhar por estas tabankas sinto-me sempre numa espécie de bolha temporal. Aqui os recursos são muitíssimo escassos, mas o sorriso e a alegria com que sempre nos recebem é algo que nos ensina grandes lições. Sinto sempre que, apesar de nada haver, não há nada que falte. No centro da tabanka está invariavelmente uma grande árvore. Desta vez é uma mangueira gigante sob a qual as mulheres trabalhavam na construção de esteiras que posteriormente serão vendidas, muitas delas em Bissau.
A ilha de Orango é conhecida não só pelos hipopótamos, mas também pelas tartarugas que cá vêm desovar. Encostada numa esquina de uma casa, vi uma carapaça de tartaruga gigante ao lado de um pilão. Mas das tartarugas, o único vestígios que vi para além das carapaças, foram os rastos na praia junto ao hotel num dia de manhã. Uma tartaruga foi lá desovar durante a noite, mas assustou-se com o guarda nocturno e o rasto de volta para o mar era visivelmente mais acelerado.
Sinto-me uma privilegiada por poder ver este e tantos outros sorrisos maravilhosos e contagiantes.
O simples vislumbre da minha máquina tem efeito imediato em qualquer criança com que me tenho cruzado por estas terras. O difícil é parar de fotografar! E recuperar a máquina dos olhares deslumbrados das crianças quando eu viro o visor para elas se verem. Fico sempre na dúvida se elas percebem que é a sua imagem. Mas o sorriso no olhar, esse, é sempre magnífico.
E a caminhada prosseguiu e, nas palavras do nosso guia, íamos subir uma "montanha". Imediatamente todos nós reagimos, pois ouvimos sempre que a topografia guineense é essencialmente plana... E é, pois afinal a montanha não era mais que uma pequena elevação.
E chegámos finalmente ao destino, ou seja, ao local onde estão os crocodilos e hipopótamos. No entanto, a época das chuvas acabou no início de Novembro e resta um vasto pântano de lama cujas pegadas dos hipopótamos que ainda aqui vêm se podem ver bem. Mas os hipopótamos, esses, nem vê-los...
De máquina fotográfica em punho e pronta a disparar, eu era a primeira da fila (a seguir ao guia,claro!) e ainda consegui ver uma mancha a fugir quando nos aproximámos. Era um crocodilo que se escapuliu para dentro do lago e que não voltámos a ver. Mas as aves que por ali andavam eram lindíssimas.
O lago dos crocodilos ainda tem alguma água e, no meio das ervas, estavam umas bolas escuras que, supostamente, eram os olhos dos crocodilos. A adrenalina do silêncio, proximidade da vida selvagem e da caminhada neste safari fez com que ficássemos à espera a ver se acontecia alguma coisa.
Ainda houve quem se atrevesse a mandar uns paus ao lago e nós, em vez de nos pirarmos a alta velocidade, ficámos a ver se saltava algum crocodilo... Mas não, fiquei-me pela mancha a correr e pelos olhos a espreitar de dentro do lago.
Na longa caminhada de regresso descemos a "montanha" e pudémos apreciar a bela paisagem em constate mudança que esta ilha tem para nos oferecer.
A minha árvore preferida da Guiné, a cabaceira ou embondeiro.
Uma árvore bastante peculiar cujo nome não conheço...
A "palha" seca ao sol à espera de ser transformada em esteiras.
"Há mar e mar, há ir e voltar". E eu tive de voltar, desta vez com os pés na lama, pois a maré já tinha descido. O piso era muitíssimo escorregadio mas os mangais fizeram de corrimão. Enterrei uma perta até ao joelho numa lama castanha, mal-cheirosa e cheia de bolhinhas. Aiiii...
Lá estavam de novo as lanchas e o rio, para nos levarem de volta através dos mangais.
Mais um vislumbre de uma águia que até posou para as fotos.
Uma ilha deserta no delta.
Lá estavam de novo os pelicanos à nossa espera. A viagem estava a ser tranquila e com tempo para apreciar a paisagem magestosa.
De repente, sem estarmos à espera, começámos uma perseguição a um hipopótamo ("Pis-kabalu") que estava na margem do rio e que depressa se afastou a nadar.Entretanto o nosso motor caiu à água e foi resgatado e ressuscitado a tempo de darmos a volta e perseguir este animal que eu pensava que tinha um ar meiguinho e fofinho e, afinal, é um dos mais perigosos de África. Apesar de não o ver por inteiro, vi-lhe a ponta da cabeça 3 vezes durante a aventura de andar numa lancha em perseguição a um hipopótamo que é um nadador bastante rápido. Numa das vezes que ele subiu para respirar, consegui esta fotoonde se vê um pontinho escuro quase junto à margem. Depois fiz a montagem para se perceber melhor. Sim, eu tenho a prova! Eu vi um pedaço da cabeça de um hipopótamo!
Depois de vermos o hipopótamo andámos às voltas pelas praias e quase parámos neste banco de areia pradisíaco para o nosso piquenique. Mas não, continuámos às voltas.
Depois de pararmos nesta praia magnífica, contemplarmos o silêncio e a paisagem e darmos um belo mergulho nesta água azul trasparente, continuámos à procura do local para o piquenique.
Finalmente parámos nesta praia paradisíaca onde passámos o resto da tarde. Entre banhos, passeios a pé, apanha de caju e tentativa de assar as castanhas de caju, este pedaço de terra esquecido do mundo proporcionou-me uns momentos de reflexão e deslumbramento. Percebi que ainda existirem recantos assim, esquecidos e perdidos no meio de um planeta que corre a uma velocidade vertiginosa. Aqui parece que o tempo parou há muito tempo atrás. Aqui a mão do Homem ainda não tocou ao ponto de estragar este pedaço de mundo. Aqui a beleza impera e o silêncio reconforta e recarrega a minha energia.
Parece que a cada passo que dou vejo uma obra de arte, um salpico de beleza interminável.
Os tecelões apoderaram-se das árvores do hotel, onde há ninhos e pássaros cantores por todo o caminho até ao restaurante. Felizmente o meu quarto do bungalow era virado para o mar (a cerca de 6 passos entre a porta e a areia) e não precisei de cds de medidação com o som das ondas.
Lesma do mar, nojentíssima mas lindíssima!
Depois de um deslumbrante passeio de kaiak, a maré desceu e fomos fazer uma caminhada. e Andei, andei, andei e chegámos a um rio que, quando a maré desce, desaparece e assemelha-se a um pequeno ribeiro, embora os mangais denunciem o nível da água quando a maré sobe.
Os mangais são árvores cujas raízes mantêm a areia e a ilha e estão na maioria das margens dos rios e em muitas das praias. O fruto é alongado e chamam-lhe "caneta" e, quando cai, fixa-se na vertical na lama e daí nasce uma nova árvore.
Depois de um dos meus passatempos preferidos, a apanhar conchas e búzios numa caminhada pela praia, o regresso ao hotel foi marcado pelo vislumbre de mais aves e um pôr-do-sol revitalizante.
As miúdas do "combé" tinham andado a apanhar o berbigão toda a tarde durante a maré baixa e, ao passarem em frente ao hotel, comprámos-lhes cerca de 8kg por 1500f CFA = 2.30€ para o jantar. O preço inicial era 100f CFA (0.15€) por cada caneco, mas quando elas ouviram falar em 1000f, começaram a pular e a gritar de alegria, e todos quiseram dar do seu balde. O resultado foi uma alegria contagiante e um belo desafio na hora de comer o "combé". Fresco mais fresco não há!
Orango Parque Hotel, no Parque Nacional das Ilhas de Orango.
A distãncia é sempre relativa... Lisboa: 3107km; Paris: 4484km; México: 8864km; Londres: 4689. Mas este pequeno pedaço de paraíso está a muito mais distância de qualquer cidade cosmopolita. Felizmente os Bijagós não são explorados pela indústria hoteleira nem pelo turismo em massa, e eu espero que assim continue por muito tempo, para estas populações conseguirem preservar a sua cultura intacta dos nossos hábitos nocivos que arruinariam a beleza destas ilhas esquecidas no tempo e no espaço.
O caminho de volta foi marcado pelo mar mais agressivo e por uma viagem de candonga até Bissau, passando por esta estrada escavada antes de chegar a Quinhamel, terra das ostras.


Por fim, mais uma foto da árvore do principezinho, desta vez revestida de bolas de algodão rosado que se espalha pelas imediações e cobre tudo num manto de neve sob 40º.

Nestas mini mini-férias nos Bijagós aproveitei para descansar e para renovar as energias para mais uma temporada em Bissau, até regressar a Portugal para passar as férias do Verão. Nesta aventura vi paisagens deslumbrantes, uma mancha de crocodilo a fugir, muita passarada, um pedaço de hipopótamo e rastos de tartaruga. Fica a vontade de conhecer melhor a etnia Bijagó e a sua cultura, tão diferente de tudo o que nos é familiar no resto do mundo, e também a a vontade de voltar e conhecer as salinas e outras tabankas, para além de poder privilegiar de um pequeno paraíso "à beira-mar plantado" com gente acolhedora, paisagens magníficas, comida deliciosa e praias inesquecíveis.